Proteção aos ecossistemas marinhos

O derramamento de óleo no golfo do México não é apenas o maior da história da exploração do petróleo, como é também um dos piores desastres causados pelo homem na história”, disse Paul Watson, lendário capitão da Sea Shepherd.

DESASTRE NO GOLFO DO MÉXICO
Operada pela petrolífera britânica British Petroleum (BP), a Plataforma Deepwater Horizon explodiu no dia 20 de abril de 2010 no golfo do México (aproximadamente a 80km do estado norte-americano da Louisiana) e afundou dois dias depois, deixando 11 trabalhadores mortos e despejando milhares de litros de petróleo no oceano Atlântico, em um desastre que pode ser considerado uma das maiores catástrofes ambientais da história. Hoje, mais de um mês após o acidente, a área ocupada pela mancha de óleo já supera a marca de 26 mil km², e, em termos comparativos, já é maior do que a área do estado do Sergipe, no Nordeste do Brasil. A alarmante estimativa é de que estejam jorrando 800 mil litros diários no oceano.

Chocado com a situação, o Blog POR DENTRO DAS ONDAS decidiu procurar a Sea Shepherd, organização internacional sem fins lucrativos dedicada à proteção dos ecossistemas marinhos, que tem experiência em atuar pontualmente em vazamentos catastróficos, como os que aconteceram em países como o próprio Brasil (Rio de Janeiro), o Equador (Galápagos) e a França (costa da Bretanha), além do emblemático desastre do navio Exxon Valdez, no Alasca, ocasião na qual foi derramado cerca de 11 milhões de galões de óleo no mar do hemisfério Norte.

O idealizador e principal porta-voz da Sea Shepherd, o capitão Paul Watson, que dedicou sua vida à proteção das baleias, foi incisivo ao telefone: “O que aprendemos nestes vazamentos irracionais é como é difícil, sujo e perigoso limpar todo o desastre ambiental. Os prejuízos causados por esses acidentes levam décadas para serem recuperados”. O óleo alcançou a costa da Louisiana e ilhas próximas, contaminando o rico e diversificado ecossistema marinho existente na região do golfo do México, que abriga centenas de espécies de peixes, camarões e ostras, além de pássaros raros e outros animais.

Em outro contato que fizemos, desta vez com o biólogo marinho Paul Montagna, da Universidade do Texas, que lidera os trabalhos de ação no combate aos prejuízos causados pelo acidente, o pesquisador se mostrou extremamente preocupado com as ricas bancadas de corais da região, em especial a chamada Pinnacles. Dependendo da velocidade e direção das correntes, a bancada, que se estende do Texas à Flórida, pode ser alvo de contaminação de óleo. Mas, além desse perigo, ele destacou outros riscos que podem ganhar dimensões incalculáveis. “De início estávamos bastante preocupados com os animais da superfície, como tartarugas, baleias e golfinhos. Agora, estamos preocupados também com todas as formas de vida em água e terra, pois os danos do acidente vão perdurar por anos”.

Paul Watson, um dos mais ativos críticos a todos os envolvidos no desastre e na contenção ineficiente do caso, foi além: “Não acho que os ecossistemas marinhos do golfo do México venham a se recuperar completamente nesta era. O estrago é por demais intenso e demorará décadas para que isso seja revertido, e para quê? Uma tentativa de recuperar a enorme fração de 3% do petróleo do mundo à deriva na costa dos EUA. O custo econômico para a indústria do turismo e da pesca será, sozinho, muito maior do que todo o lucro que a BP já teve em sua existência”.


BRASIL
No Brasil os três estados que concentram a produção petrolífera nacional ─ São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo ─ assumem não possuir um plano de ação para lidar com um acidente de proporções semelhantes ao que aconteceu no golfo do México. “Fiquei muito preocupada ao imaginar se exatamente isso acontece aqui. Teríamos que aguardar a ação do governo federal, pois não temos preparo, nenhuma lei que preveja o que deve ser feito ou a quem acionar”, disse Marilene Ramos, secretária de Meio Ambiente do Rio de Janeiro.

Em alerta, Marilene afirmou que pretende convocar uma reunião emergencial com o Ministério do Meio Ambiente e a Petrobrás, com a intenção de abrir um diálogo produtivo à criação de uma força-tarefa para atuar em possíveis desastres ambientais relacionados ao petróleo no mar, e estudar possíveis articulações com o governo federal.

Pelo que parece, a verdade é que não existe tecnologia adequada para combater vazamentos em tamanha profundidade e em tempo hábil de evitar um desastre ambiental / operacional que se revele fora do controle do homem. Com a corrida comercial no maior grau de maior importância dominando um mundo centrado sobre os valores de expansão energética, o meio ambiente e a saúde do planeta ficam em segundo plano.