O SOM DOS VÍDEOS

Um grande poder dos filmes de surf é o de por na roda sons que vão ficar na sua mente e ampliar os nossos horizontes musicais, até educando os iniciados. A escolha da trilha sonora conduz o filme por diversos climas e sempre causa em nós reações fortes ─ introspectivas ou de adrenalina. Acompanhei 5 filmes que me causaram efeitos colaterais bem variados, comento alguns aqui.



STRANGER THAN FICTION ─ DE TAYLOR STEELE
Só pelas primeiras 6 músicas, já valeria o CD, se este existisse. Justice, Digitalism, Trouble Andrew, Cut Copy e Teddybears: essas músicas resumem o que é o som eletrônico e o rock dos anos 2000. Guitarras, sintetizadores distorcidos, elementos e vocais com pinceladas retrô (algo de Depeche Mode, Kraftwerk, Daft Punk). Trouble Andrew já faz um eletro-punk / punk-eletro, na porrada “Bang bang”. Cut Copy traz um baixo forte, com um vocal dark e um gancho marcante no refrão. A cereja no bolo é o Teddybears com participação do Iggy Pop, impossível o refrão: “Coz I’m a Punk Rocker, yes I am” não te adrenar. A prata da casa CSS não faz feio com “Rat is Dead”, vocal da Lovefoxx despreocupadamente sensual e riff de guitarra que gruda legal. A atriz Juliette Lewis chega junto mixada pelo MSTRKRFT, bem power! The Futureheads lembra Bloc Party, mas sem dublagem. E o Les Savy Fav não tira o pé do acelerador e vai bem acompanhado de guitarras. O melhor do filme é que não tem blá blá blá. É som sem parar. Ufa!


ARCHY ─ BUILT FOR A SPEED, BORN TO RIDE ─ DE ALEX WILSON
Ao saber que o filme era narrado por ninguém menos que Henry Rollins (vocal da lendária Black Fag e da Rollins Band) já sabia que a soundtrack não seria fraca. Grandes clássicos do rock e do blues, beirando o selvagem, assim como o protagonista do filme, Matt Archbold. Têm Social Distortion, Rolling Stones (do tempo que eles representavam perigo), The Kinks, Charlie Rich e David Bowie. Elmore James faz miséria com seu blues rock e sua guitarra sacana e a balada nó na garganta de Colin James Hay. The Avett Brothers mandam um country nervoso. Básico, cru e direto, as origens do rock e suas bases.


A FLY IN THE CHAMPAGNE ─ DE IRONS BROS PRODUCTION
O filme que conta a saga Slater × Irons tem uma trilha sonora que resumidamente se divide em 3 partes:
· Rock na veia Placebo que já é recorrente em filmes e sempre cai bem. The Heartaches ─ básico, naipe rock inglês dos anos 00. Sparta que já ouvi em outros filmes e é sempre gritado e bota pilha. Destroy the Runner quase new metal.
· Baladas Years Around the Sun, Hybrid, Air, Sea Wolf, A Blue Sun e Rogue Wave & Interpol ─ algumas com toques eletrônicos, folk ou rock.
· Eletro/rock Unkle (com 3 sons) e Modest Mouse.
O ruim é que o filme é muito falado, dando não muito espaço para os sons.


QUINTAL DE CASA ─ DE RAFAEL MELLIN
O filme com som mais regional, bem brasileiro e disposto a arriscar, experimental mesmo, o que acabou dando muito certo. Parece muitas vezes uma Pífanos de Caruaru pra rave: Botecoeletro, Batucaje, Mombojó e Marcelinho da Lua seguem esse sabor nacional. Depois tem Marcelo D2 com um partido alto casca grossa com letra bem pra cima. Sonic Junior do Brasa manda um rock eletrônico bem astral também, bem climático. Ainda tem hardcore com Millencolin e Mxpx.

Som diferenciado, só pela coragem e experimentalismo vale a pena.


SIMPLES OLHAR ─ DE PABLO AGUIAR
Esse trabalho também prezou pela coragem e experimentalismo, com o diferencial que a trilha na maioria foi feita especialmente para o filme.

O brasileiro John Player Special manda um instrumental muito relax, criando um clima de surf introspectivo, algo que soa uma fusão entre Sublime e John Frusciante. O Mindflow manda um rock pesado, progressivo que dá o destaque no surf mais agressivo no vídeo, assim como o Ancestral que manda uma ópera rock nervosa. Mais um que acertou ao arriscar.



Veja os filmes e destrinche as trilhas sonoras, fonte inesgotável de novidades antigas ou novas!