Faça você mesmo

A era digital, um dos braços da era da informação, é imprevisível. Em 2004, uma empresa situada no norte da Califórnia se lançou no mercado com uma linha de pequenas câmeras “faça você mesmo” voltada para alguns esportes radicais específicos. Com o sugestivo nome de GoPro, os caras começaram a produzir equipamentos que podiam ser acoplados aos carros de corrida, capacetes de moto e, o mais relevante para nós, pranchas de surfe.

Voltando um pouco no tempo, as câmeras GoPro são conseqüência do crescimento desenfreado do mercado digital, principalmente sua vertente para amadores. Os grandes fabricantes investiram maciçamente em câmeras fotográficas e filmadoras totalmente voltadas para a maior fatia do mercado, a do consumidor amador. Graças à tecnologia digital tudo se tornava mais viável e simples, desde o clique a impressão. Esse tipo de produção ganhou espaço e se desenvolveu rapidamente, até tornar-se acessório obrigatório do homem do século XXI. Fatos esses que, em pouco tempo, se tornaram uma dor de cabeça para os profissionais da área de mídia. No caso do surfe quem mais sofria eram fotógrafos e vídeo-makers, vendo a linha que divide o profissionalismo e o amadorismo cada vez mais tênue. Muitos conservadores se recusaram por bastante tempo a usar equipamentos digitais alegando a falta de qualidade, se comparado à película. Mas, salvando-se casos muito específicos, isso é puro papo. O digital vinha engolindo tudo e todos que não o acompanhavam. Porém, em 2004, quando a GoPro foi lançada como grande revolução para surfistas amadores, poucos deram bola e nem de longe era uma ameaça à fotógrafos e vídeo-makers, graças a um simples fato: ninguém usava a tal câmera. O produto era visto como tão amador que chegava a ser de “prego”, o bom surfista arrumava alguém que fizesse suas imagens, nem que fosse com aquela câmera digital mais vagabunda que vendia através de um 0800.

De volta a 2009, fica a pergunta: o que mudou nessas câmeras para se tornarem a febre, entre surfistas amadores e profissionais, que são atualmente? Entre muitas respostas, uma se sobressai: a publicidade. A empresa, no ano passado, investiu forte em atletas capacitados que divulgaram imagens produzidas com a GoPro em ondas de respeito. Todos viam com os próprios olhos o potencial do produto.

Outra grande propaganda foi feita de tabela por caras como Brian Conley e Timmy Turner, nos filmes “My Eyes Wont Dry” e “Second Thoughts”. Apesar de usarem um equipamento muito mais sofisticado do que a GoPro, a “tube vision” é praticamente a mesma. Assim, a “xeretinha”, que já foi tirada de “prega”, deu a volta por cima e é considerada atualmente inimiga nº1 dos que vivem de produzir imagens de terceiros, também conhecidos como fotógrafos ou vídeo-makers. Mas também se tomou uma das melhores amigas dos surfistas.