Diamante bruto

JADSON ANDRÉ NÃO EXPLODIU TÃO CEDO COMO SEU "VETERANO" COMPANHEIRO DE EQUIPE ADRIANO DE SOUZA, MAS AOS 19 ANOS, VEM MOSTRANDO PERFORMANCES IMPRESSIONANTES DAS QUAIS NÃO ME LEMBRO TER VISTO EM SURFISTA BRASILEIRO EXIBIR.


O surf deste jovem potiguar até lembra um pouco o do seu conterrâneo Danilo Costa, com bastante velocidade e um approach cheio de energia sem focar muito no estilo, mas as manobras aéreas e a força com que Jadson executa seus movimentos em cima de uma prancha realmente me fizeram parar pra pensar e escrever.

Já vi inúmeros talentos no Brasil começarem a se destacar e sumirem no limbo das drogras, escolhas equivocadas, cabeça "pequena", enfim, não é raro garotos com um belo futuro no surf se perderem no meio do caminho. Mas olhando os resultados do protagonista deste texto e as pessoas que o cercam, acho que ano que vem teremos um nome que arrancará expressões incrédulas ─ de forma positiva ─ dos juízes da ASP World Tour.

Há alguns dias assisti pela internet à derrota de Jadson para o ianque Patrick Gudauskas na semifinal do Sri Lankan Airlines Pro, nas perfeitas esquerdas de Pasta Point, nas Maldivas. Mesmo derrotado, o brasileiro simplesmente estraçalhou as ondas durante todos os dias em que esteve na água. Suas rasgadas 270° e os aéreos invertidos são um primor de radicalidade. Com pouco mais de cinco eventos disputados, ele está virtualmente classificado para a elite do surf em 2010. Apenas uma catástrofe fará com que ele não garanta sua vaga já em outubro.

O que levou a ficar de olho no moleque foi sua vitória no Quiksilver Pro Durban, em ondas pesadas na África do Sul. Seu ataque ao lip beirava a irresponsabilidade. Jadson não tem medo de arriscar e isso faz a diferença no seu surf. Diria até que a maturidade faz com que o competidor passe a valorizar manobras eficientes ─ isso não quer dizer manobras fracas ─ que se combinam com as sessões e permitem um aproveitamento melhor da onda. Pois este menino parece programado para aniquilar, sem pensar muito. Talvez por isso seu estilo ainda seja seu ponto fraco, porém nada que mais algumas trips em ondas de qualidade e muitas horas vendo caras bons surfando não possam ajudar.

Achava que Jadson era um surfista que se destacaria em ondas pequenas e médias, até pela sua velocidade e agilidade, mas depois de ver a viagem que ele fez para Carolina Islands, me convenci do contrário. Li que o moleque deu umas batidas de backside insanas em ondas pra lá de cracudas e não amarelou para nenhum lip, mesmo sabendo do coral afiado que estava poucos metros abaixo. As fotos das viradas cheias de pressão confirmaram a pegada do "minino" e atestam que o cabra tem um coice e tanto.

Outros nomes como Alejo Muniz, belo surfista com uma linha de surf impecável, e Wigolly Dantas, moleque atirado, são a prova de que chegamos a um degrau acima do que estávamos, pois além do talento, eles têm uma imagem bacana e se mostram focados em realizar seus sonhos, sem pressa.

Jadson André será o líder dessa turma, não tenho dúvidas. Orientado de forma correta, com um apoio financeiro excelente e esbanjando qualidade, ele já é o cara do momento, junto com o australiano Owen Wright, no WQS. Dois goofies que prometem bons duelos na divisão de acesso nesta temporada. Por enquanto, o aussie segue na frente com um aproveitamento melhor e também com um surf de encher os olhos, inclusive uma vitória cheia de autoridade sobre Kelly Slater no Rip Curl Pro em Bell's, segunda etapa do Mundial. Como há muita estrada ainda, o Brasil tem uma grande chance de abiscoitar outro título do WQS, só que com um cara que promete entrar para o rol dos melhores e não apenas ser mais um. Jadson André me parece fadado para voos altos, bem acima do que estamos acustumados a ver.

Pressão nele? Quem quer ser o melhor precisa segurar a peteca cedo, aguentar o rojão e mostrar que ansiedade pode se transformar em energia. Este ano, que tinha tudo para ser de Adriano, tem a cara do André.