Peter Pan ao contrário


Toda criança, menos uma, cresce. Adriano descobriu isso quando recebeu sua primeira proposta para ganhar um dinheiro através do surfe ─ tinha acabado de completar 10 anos. "Por que você não se desenvolve e ganha o tão sonhado título mundial para o Brasil?", imagino eu, pensando no seu novo empresário na época.

Alguns anos depois, na Austrália, Sean Doherty, narrava assustado a bateria da terceira fase, entre a grande esperança australiana, Josh Kerr e o atual campeão mundial junior, Adriano de Souza, a verdadeira final do campeonato de juniors em North Narrabeen, descrevia-o. Parko, Occy, Taj e Luke Egan torciam desesperadamente por uma vitória australiana, enquanto Mineiro abria a disputa com um aéreo muito alto, duas vezes a altura da onda e quase o completa.

Kerr já tinha uma equipe montada em cima do seu arsenal de manobras impressionantes. Não era publicado um único exemplar sequer de revista de surfe sem uma foto de um aéreo do Josh Kerr em 2004 e Mineiro parecia querer dar o seguinte recado ao mundo: "Vocês acham que ele é o cara dos aéreos? Vejam isso..." De Souza atropelou Kerr ─ o recado foi mandado.

Não foi a primeira vez que Adriano era o melhor surfista do campeonato e não levantava o caneco. Foi assim também em 2002, com incríveis 15 anos, quando destruiu todos os adversários em Durban, na África do Sul, no extinto formato do Mundial amador.

Toda criança cresce. Campeão paulista iniciante e estreante aos 12; mirim e brasileiro aos 13 e 14; mais jovem surfista a vencer uma etapa do circuito brasileiro e profissional, aos 15*; mais jovem a classificar-se para o Super Surf, aos 16; surrou sem pena, em casa, o australiano Shaun Cansdell para tornar-se campeão mundial junior antes de completar 17; campeão do WQS com um abismo de pontos do segundo colocado, aos 18. Sétimo do mundo na maioridade.

Ao contrário de Peter Pan, Mineirinho fez o caminho inverso, acelerou sua maturidade e abandonou a infância mais cedo que todo mundo para poder ganhar o planeta. Logo cedo, abandonou seu patrocinador de longa data, Hang Loose e acertou um contrato com a Oakley, um ato de coragem e pouca afeição.

Suas conquistas e o peso de cada uma delas. Desde garoto, a imprensa cisma de jogar no Mineiro a responsabilidade de carregar toda essa expectativa de um país em suas costas. Uma maldade sem tamanho que fazem com ele desde que levantou o primeiro campeonato. Mineiro não carrega nada nas costas, a não ser uma enorme força de vencer a qualquer custo.

Em 2006, depois de arrancar um estupendo terceiro lugar na primeira etapa do Tour na Gold Coast, Slater previu que Mineiro venceria uma etapa ainda na sua primeira temporada. Não conseguiu. Mas em 2009, Mineiro já foi capaz de chegar em duas finais, contra um Parko imbatível em Bells Beach, e contra o próprio Slater em Imbituba.

Acabara de completar 22 anos, há tanto por fazer ainda que qualquer previsão pode ir para o brejo. Mas uma coisa é fato, Adriano de Souza deixou de ser promessa faz tempo. Enquanto Dane Reynolds e Jordy Smith chegam ao WCT cheios de câmeras e holofotes, Mineiro já é um veterano e seus objetivos são de tamanhos variados. Jordy e Dane, já chegam com um surfe pronto para o título mundial, mas pecam pelo que Adriano tem de sobra: garra.

Mineirinho ainda tem muito tempo para corrigir seus defeitos e mais cedo ou mais tarde, conseguirá conquistar todos os seus objetivos e realizar seus sonhos.



* Neco Padaratz em São Chico e Silveira ou Peterson em Caiobá ambos com 13 anos, venceram etapas de estadual pró.