Maya Gabeira


Você teria coragem suficiente para surfar Mavericks com um sangramento no corpo, tendo que encarar, além das morras e da água gelada, a possibilidade muito real de um encontro com um tubarão branco? E o que você diria para o Raimana Van Bastolear, local mais casca-grossa de Teahupoo, se ele encostasse o jet-ski no seu barco num dia gigante e falasse: Agora é sua vez? É, nestas horas até que ser mulher ajudaria, pelo menos você poderia justificar sua amarelada respondendo que normalmente você até iria, mas "justo hoje" não ia ser possível pois "eu estou mestruada". Na verdade, não confirmei a informação, mas diz a lenda que Maya Gabeira estava mestruada tanto no dia em que surfou a onda em Mavericks que foi decisiva para a sua vitória no Billabong XXL Global Big Wave Awards, na categoria Melhor Performance Feminina, assim como no último dia 1º de novembro, quando novamente fez história, tornando-se a primeira mulher a dropar Tahupoo em condições extremas. Quer dizer, pra ela, estar mestruada ou não, não entrou em questão, até porque se ela precisasse de uma desculpa, não faltariam outras tão boas quanto essa ou melhores: ela poderia dizer que seu porte físico é muito frágil para a força das ondas de Mavericks ou Teahupoo, o que é verdade; que sua técnica no surfe de ondas grandes ainda necessita ser mais aprimorada, o que é verdade; que jurou para sua mãe que não iria surfar ondas assassinas, o que é verdade; que é jovem demais para morrer, o que também é verdade. Maya tem apenas 20 aninhos e aquela maravilhosa e perigosa, ingenuidade dos inocentes, dos puros de espírito. Quer saber minha opinião sobre ela ter surfado Teahupoo? Foi uma tremenda de uma loucura, para não dizer irresponsabilidade, que por muito pouco não resultou numa tragédia. Lembro claramente como todos no canal que testemunharam as duas vacas, sucessivas e cabulosas, que ela tomou, ficaram gritando desesperados, tentando ajudar Laird Hamilton, responsável pelo resgate, e Raimana, que a rebocou, a encontrá-la no meio da espumeira branca. Especialmente na segunda onda, quando ela demorou demais para subir do caldo, e ainda quase foi atropelada pelo jet-ski de Laird, que passou exatamente sobre o lugar onde ela se encontrava submersa uma fração de segundo antes de sua cabecinha apontar na superfície, para alívio de todos, que já pensavam no pior. Pouco antes, Laird havia se postado de sentinela com o jet-ski estacionado próximo a um barco e perguntaram a ele como Maya havia reagido ao primeiro wipe out. Ele riu, e contou que após tirá-la d'água, perguntou se estava bem. Ao receber uma resposta afirmativa, ele disse que a partir daquela hora ela já sabia como era. Maya então pediu, ali mesmo, sem titubear, para pegar outra onda. Fico só imaginando o que essa menina alegre e valente ainda vai aprontar por aí, dando sustos e colocando no seu devido lugar marmanjos que não mestruam, como eu mesmo.